Em Abril, fui dar aulas em uma outra escola, num bairro não muito distante do centro. O perfil dos alunos não mudou, todos tinham entre 17 e 22, normal para uma escola técnica. Por motivos de reforma, os armários dos professores estavam localizados no corredor principal, onde os alunos também tinham acesso. Logo no segundo dia fui pegar meus livros e tinha um bilhete rosa dentro do meu armário que dizia: “finalmente um professor gato nessa escola”. Fiquei feliz com a recepção, mas o bilhete não estava assinado. Não sabia se vinha de alguma professora ou de aluna.
Os dias se passaram. Eu ficava tentando identificar quem seria a pessoa que havia escrito o bilhete. Buscava algum olhar mais atento, mas nem sinal. Até que apareceu outro recado no meu armário: “adorei sua roupa ontem. E essa barba fica muito bem em você, nunca tire! Pena que você não dá aula pra minha turma”. Bom, ao menos eu agora sabia que não dava aula pra ela, então podia procurar filtrando a partir desse dado. Passei a me concentrar nas alunas de outras salas, mas não deu resultado.
A maioria delas olhava de volta quando eu buscava seus olhos, mas nada que indicasse um interesse maior. Na semana seguinte, outro bilhete. “hoje eu não me aguentei, você estava lindo demais. Fui no banheiro e me toquei. Pena que não consegui gozar, alguém entrou e desconfiou. Mas em casa eu termino”.
Esse último bilhete, como vocês podem imaginar, fez minha imaginação ir a milhão. Fiquei maluco, não sabia como agir. Precisava descobrir quem era essa menina que estava mexendo com a minha cabeça. Mas duas semanas se passaram e nenhum outro bilhete apareceu. Já estava quase esquecendo o assunto. Achei até que alguém estivesse de sacanagem comigo. Alguém queria pregar uma peça no professor novo. É provável que seja isso, pensava.